Eu era feliz e não sabia
 



Cronicas

Eu era feliz e não sabia

Maurícia Mees




Eu era feliz e não sabia

Imagens de praias vazias e cenários interioranos fazem com que eu queira me libertar das amarras a que me encontro presa há quase dois anos. Não bastam meus próprios enredos, têm aqueles criados por outrem com a desculpa de proteção, mas que causam mais do que medo, causam pavor.
A visão de cenários idílicos me levam a querer fugir da minha prisão atual, mas logo minha imaginação se eleva em voos sobre o espaço, onde sou intocável.
Hoje, se me perguntarem, o que eu mudaria na minha vida, se pudesse, talvez eu não fosse mais dizer que queria voltar a ser jovem, talvez eu quisesse apenas voltar ao tempo de jovem. Às tantas saudades que tenho daquela época, juntaram-se outras ( e aqui uso a palavra no plural porque são tantas e tão variadas) —saudades do tempo em que o medo do invisível era apenas de defunto; o visível que amedrontava eram cobras e os bêbados irracionais.
Não bastassem as saudades acumuladas ao longo da vida, hoje sinto a saudade dos abraços, das conversas sem a tranca de uma máscara, famílias e amigos reunidos, reuniões e cursos presenciais que contemplavam o ser social que somos. O medo deste vírus invisível está causando esta saudade. Sim, já tínhamos medo de vírus, mas aqueles não eram tão populares, não atacavam a todos indiscriminadamente, pelo menos não os tivemos na minha geração. Este medo está tão arraigado em mim que a proximidade e intimidade presentes em filmes e imagens do passado não são mais aceitas em minha mente.
Além do invisível, ainda temos o temor cada vez maior do ser visível chamado humano – nosso próximo. Estamos em constante vigília para evitar ameaça física, e ainda somos presas fáceis de crimes virtuais que causam tanto danos financeiros, como emocionais. Cada vez mais usamos trancas nas portas, grades nas janelas, alarmes e câmeras em nossas casas. Nem há jardim sem cerca. Nossas palavras e imagens transmitidas aos amigos via internet estão expostas aos hackers de sentinela que se especializam mais e mais a cada dia nas formas de atacar sistemas de banco de dados informatizados. Sim, costumamos dizer que a vida era mais fácil, ou éramos mais felizes no passado
Um exemplo do que me refiro, são os afegãos que, conscientes ou não, eram mais felizes enquanto a maior preocupação era o flagelo do COVID-19. Agora querem voar, agarrando-se às asas do avião para sentirem-se invulneráveis ao flagelo visível do Talibã.
Sim, hoje tenho saudade de andar e respirar sem medo do invisível e de poder confiar no ser humano.
Este é um tempo em que muitos de nós pensamos em como éramos felizes e não sabíamos.

 

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